Antes de conhecer a médica anestesiologista Walédya Melo, confesso que quando pensava em um anestesista, vinha ao pensamento a imagem de um centro cirúrgico e o paciente dormindo.
Só que, conversando com a médica, descobri muito mais. São vários os ramos de atuação de um profissional, com essa formação. Vamos parar um pouco e pensar. São os anestesistas que “apagam” nossa dor na hora de um procedimento cirúrgico.
E são justamente esses profissionais os mais qualificados para lidar com a dor de um paciente. Principalmente, quando se trata de dor crônica. “A dor não é somente durante uma cirurgia. Existem dores relacionadas a processos crônicos. E qual profissional está mais preparado para lidar com as dores dos pacientes? O anestesiologista, claro”, afirma anestesista Walédya Melo, em entrevista para nossa coluna.
ROBERTA FONTELLES PHILOMENO – A IMAGEM QUE TEMOS É QUE O ANESTESIOLOGISTA SÓ TRABALHA EM CENTRO CÍRURGICO, COLOCA O PACIENTE PRA DORMIR. NÃO É ISSO?
WALÉDYA MELO – É normal que as pessoas, quando pensem no médico anestesiologista, imaginem logo um centro cirúrgico, o médico de roupa privativa, touca, máscara e preparando o paciente para dormir. Mas você já parou para se questionar que é exatamente esse profissional que não permite você sentir dor? E a dor não é somente durante uma cirurgia, existem dores relacionadas a processos crônicos. E qual profissional está mais preparado para lidar com as dores dos pacientes? O anestesiologista, claro.
RFP – NOSSA, ENTÃO O ANESTESISTA TRABALHA TAMBÉM A DOR, DO DIA-A-DIA, DO PACIENTE?
WM- Sim. Somos especialistas nisso. E foi com esse foco que eu me especializei ainda mais na área para não só realizar o tratamento das dores agudas (caso de uma anestesia cirúrgica), mas também cuidar da dor crônica, do paciente, em consultório. Analiso todas as nuances que envolvem a dor. Avalio não só a dor em si, mas o paciente como um ser humano completo e complexo.
RFP – E QUANDO UMA DOR É CONSIDERADA CRÔNICA?
WM – A dor é considerada crônica quando ela tem mais de três meses de duração ou quando durar mais de um mês, após a resolução da lesão ou problema que a criou. Ou ainda, aquela dor que aparece e desaparece. Depois, volta a aparecer, mesmo após meses ou anos do primeiro episódio que a provocou. Também existem as dores associadas a doenças crônicas, como: câncer, diabetes, artrites, fibromialgia, enxaqueca.
RFP – AS INCERTEZAS E PERDAS GERADAS PELA PANDEMIA AUMENTARAM A INCIDÊNCIA DE DOR? AS PESSOAS ESTÃO SOFRENDO MAIS COM DOR?
WM – Aprendemos na pandemia que aparentar saúde, não é o mesmo de estar saudável. A dor nada mais é do que um desequilíbrio dos sistemas, um sinal de alerta de que algo está errado. Em geral, a dor ocorre por desequilíbrio de um ou mais de três sistemas fisiológicos que rege toda a nossa orquestra corporal, são eles: o sistema nervoso, o sistema imunológico e o sistema endócrino. No período pandêmico as pessoas ficaram isoladas, não praticavam atividades físicas ou outras atividades prazerosas. Isso levou ao desequilíbrio dos sistemas maestros, aumentando sim a ocorrência de mais processos dolorosos.

RFP – QUAIS AS CAUSAS REAIS DA DOR?
WM – Cada caso é um mistério a ser esmiuçado e desvendado. Trabalho com uma abordagem integral do ser humano. Avalio todo o conjunto fisiologicamente para entender onde iniciou o processo de desequilíbrio que levou ao aparecimento desse sinal no corpo. A dor sempre é real, não deve ser negligenciada, não é frescura, não é coisa da sua cabeça, como muitos dizem. Toda dor tem tratamento, objetivando sempre devolver a qualidade de vida do paciente.
RFP – A SOROTERAPIA, CURA A DOR? DO QUE SE TRATA E PARA QUAIS DOENÇAS É INDICADA?
WM – A Soroterrapia, também conhecida como terapias injetáveis, é uma fonte segura para prover nutrientes, vitaminas, minerais, antixoxidantes, quelantes dentre outras substâncias, para o corpo.
Com alta biodisponibildiade, ou seja: 100% do que for administrado estará disponível, para ser utilizado pelo organismo, já que não haverá perdas ao longo do trato digestivo, como ocorre na administração por via oral.
A soroterapia é indicada para todas as idades, atuando não só de forma preventiva, mas também como adjuvante terapêutico para diversos desequilíbrios. Dentre eles: fadiga muscular, dores crônicas, articulares, fibromialgia, dores reumáticas além da dor causada pela osteoporose e por processos inflamatórios, aumentando ainda desempenho cognitivo.
Também é indicada nas doenças neurodegenerativas, na melhoria da performance de atletas e na terapia antiestresse.
RFP – E O QUE TEM HAVER HORMÔNIOS COM DOR? MODULAÇÃO DE HORMÔNIOS TEM INDICAÇÃO EM QUE CASOS?
WM – Os hormônios estão relacionados à dor! Vários casos de dor crônica têm íntima ligação com as flutuações hormonais. É o caso, por exemplo, de crises de enxaqueca que acometem mulheres, durante o período menstrual. Homens também podem sofrer com dores musculares, causadas pela diminuição da produção de testosterona.
Sendo assim, para todo paciente que passa em uma consulta de dor comigo, realizo a avaliação do perfil hormonal. O objetivo é saber se uma das causas do desequilíbrio que levou ao quadro álgico está relacionada ao sistema endócrino e, em caso afirmativo, o tratamento é realizado com hormônios bioidênticos.

RFP – E O SISTEMA IMUNE? COMO INFLUENCIA OS PROCESSOS DE DOR CRÔNICA?
WM – Desequilíbrios no sistema imune levam ao aparecimento de dores, especialmente as musculares e as ligadas aos nervos, como as neuropatias. Um exemplo clássico é o herpes zoztes, onde um desequilíbrio imunológico leva a ativação de vírus latentes no corpo, levando ao aparecimento de uma dor crônica. Para combater esse desequilíbrio trabalho com a ITA (imunterapia treinada por antígenos). Tem por objetivo imunoestimular o corpo para que se module a resposta inflamatória e impeça o estabelecimento do estresse oxidativo.